Não será melhor
Não fazer nada?
Deixar tudo ir de escantilhão
pela vida abaixo
Para um naufragio sem agua?
Não será melhor
Colher coisa nenhuma
Nas roseiras sonhadas,
E jazer quieto, a pensar no
exilio dos outros,
Nas primaveras por haver?
Não será melhor
Renunciar, como um rebentar
e bexiga popular
Na atmosfera das feiras,
A tudo,
Sim, a tudo,
Absolutamente a tudo?
—————————————————–
Fernando Pessoa. Não será melhor. In: Poemas
de Álvaro de Campos. Ed. crít. de Cleonice
Berardinelli. Lisboa: IN-CM, 1990, p. 242-3.
—————————————————–
Lélia Parreira
Medo – 2014
Acrílica sobre tela
180 x 60m